sábado, 14 de junho de 2008

O Garoto

Uma história do Sr. F, criado originalmente por Vladimir Galli, escrita excepcionalmente por Gustavo Ganso.

ao som de “She Fucking Hates Me” do Puddle of Mud

A vida não lhe dará presentes,

se você quer a vida roube-a.

O Garoto

O garoto estava sentado no sofá, olhava para o vazio, o controle remoto na mão e a televisão desligada. Foi essa a visão do Sr. F ao entrar na sala. Precisou chamar duas vezes para tirar o garoto do transe.

-O que? É você Sr. F.

-Sua mãe disse que você estaria aqui.

-Estou vendo à tv.

-Eu percebi. – E Sr. F olha para a televisão, o olhar do garoto o segue e ao perceber o aparelho desligado disfarça.

-Ah, é que eu já tinha desligado, agorinha pouco.

-Então você não foi aceito no emprego...

-É não me quiseram.

-... – Sr. F. queria que o garoto continuasse.

-Não entendo, eu sempre fui inteligente, o melhor aluno da escola.

-Você precisa entender que ninguém tem a obrigação de te contratar porque você é bonzinho e os professores falavam bem de você. O tempo de estudante e bajulador dos professores já passou.

-Eu não era bajulador!

-De qualquer forma eles gostavam de você e de certo faziam vista grossa aos seus erros.

-É, talvez... O que tem a ver?

-Aquele pessoal recebia do governo para te ensinar. Em um emprego, pagam para você produzir e qualquer erro seu serve de motivo pra ser descontado do salário o até pior, ser despedido. Como adulto você precisa agregar novas qualidades, pretendia impressionar o chefe dizendo qual a velocidade da luz?

-Se eu tivesse a chance—

-Nada, você precisa mostrar serviço. Escuta, seria muito bom se fôssemos todos bons e desligados do dinheiro, mas não é assim, a vida não vai mais arredondar sua nota, se bobear, vai até tirá-la de você, então aprenda a conseguir as coisas sem esperar a ajuda dos outros.

-...

-Agora chega de papo, esse cheiro de carne assada vindo da cozinha me deixou com água na boca. Vamos lá.

Sr. F e o garoto foram almoçar, o garoto entendeu os conselhos do Sr. F. e se empenhou como nunca. Foi dispensado por várias tentativas seguintes de conseguir emprego. Nem todos vão conseguir, por mais que se esforcem.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Poesias de amor... Nunca peça para alguém faze-las por você

(Ao som de Show me The Way Peter Frampton)


Sr.F esta tarde estava no parque, sentado, ouvindo música, quando um amigo seu chega apressadíssimo, lhe pedindo um favor:

Apressadíssimo - Sr.F! Graças a deus te achei! Ufa....

Sr.F – Diga meu amigo, o que te causas tanta aflição?

Apressadíssimo - Eu preciso muito de tua ajuda.

Sr.F – Diga.

Apressadíssimo – Eu conheci uma pessoa pela internet, uma mulher linda demais...A gente conversa há quatro meses

Sr.F (interrompendo) –Você nem sabe se as fotos são dela mesma...

Apressadíssimo – Ah, eu confio nela, a gente conversa há seis meses, ela me dá vários
detalhes dessas fotos, dela, da família e...

Sr.F (interrompendo mais uma vez) – Tá, está bom, poupe-me dos detalhes...O que você veio
me pedir?

Apressadíssimo – Ah, sim...Então...É o seguinte: Ela me disse que gosta de poesias e, poxa, eu não sei fazer poesias...Eu queria deixar uma boa impressão antes de encontra-la, será que você não podia fazer este favor para mim?

Sr.F – Você quer que escreva uma poesia para sua namorada virtual? Você sabe o que eu penso sobre isso. Poesia de amor não se encomenda.

Apressadíssimo – Sr.F. Você tem muito talento pra essas coisas, por favor, não precisa ser coisa muito longa, é só um poeminha para eu impressionar ela. Pela nossa amizade vai.

Sr.f e o apressadíssimo amigo discutem por alguns minutos e acabam entrando em um acordo. Sr.F, mesmo contrariado ira escrever algo, tentando se passar como seu amigo.

Poema de Sr.F:

“ Cara fascinante desconhecida,

Conversar contigo já não mais me satisfaz.

O som de tua voz quero eu escutar

O mistério, que já foi lenitivo a dor de amar

Agora corrói o corpo frágil.”

Novamente o amigo de Sr.F aparece alguns poucos dias depois no mesmo lugar:

Apressadíssimo – Sr.F, muito obrigado pela ajuda, ficou ótimo, ela até me escreveu uma poesia em retribuição, posso te mostrar?

Sr.F – Claro, deixe-me ver...

Poema da futura namorada virtual do apressadíssimo:

Seu anseio logo será resolvido

Paixão, angustia,medo e alegria serão compartilhados contigo.

Não foste de minha intenção lhe causar dor

Isto é sim, culpa do amor”


Sr.F – Nossa, muito bom. Parece que você escolheu bem desta vez, que bom que pude ajudar.

Apressadíssimo – Pois preciso de outro favor...Mais uma poesia. É a ultima prometo, só queria pedir para que você pudesse colocar um pouco mais de pimenta, mais erotismo entende?

Sr.F – Sim...Claro que entendi. Mas será a ultima vez mesmo, não quero mais saber dessa estória, não por você mas não quero me envolver mais.

Apressadíssimo – Tá certo, muito obrigado.

Poema de Sr.F -

Na imensidão de teus perfumados cabelos busco a paz,

Caminho em seus profundos olhos verdes,

Carregam sinceridade e mistério.

No teu beijo já, uma saudade,

A pele macia conforta e vicia,

No meu jardim é primavera todo dia”

O amigo apressadíssimo gostou muito da poesia de Sr.F, sua namorada mais ainda, aliás ela gostou tanto que respondeu. Só que esta resposta o apressadíssimo não quis mostrar para Sr.F, aliás ele achou por bem não mais mencionar este assunto com Sr.F:

Resposta da (ex) namorada virtual de apressadíssimo:

Suas poesias me encantam. Seu modo de escrever me fascina.

Também aguardo ansiosamente por um encontro.

De fato acho que me apaixonei...

Mas não foi por você...

Não entendo porque tentaste me enganar

Mas agora espero que ao menos possa,

Á este seu amigo poeta me apresentar.”

Sobre o texto:

Bom, antes que perguntem... Isto foi uma ficção, eu nunca pedi ou fiz uma poesia de amor para alguém. Desculpem a demora para postar algo novo, apesar de ser curto demorei para fazer este texto, fazia um pouco de cada vez.

Link para o álbum que tem a música citada (Show me the Way de Peter Frampton): Frampton Comes Alive! - cd 1