domingo, 2 de agosto de 2009

Você e outras poesias

Ao som de Ooh La La - The Faces , ou Everybody's Gotta Learn Sometime do Beck



Fim da tarde, sol se pondo, Sr.F caminhado na sua volta para casa encontra uma amiga sentada em um banco de uma praça, segurando um girassol em uma das mãos e apoiando um caderno nas pernas que estão cruzadas, os óculos escuros escondem o que seus olhos procuram:


Sr.F – O que te trazes á praça a esta hora?

Srta.L – Oi! Ah, eu estava tentando escrever uma poesia

Sr.F – Bonita flor

Srta.L – É, eu estava vendo se ela me trazia inspiração... Não estou tendo muito sucesso nesta Minha... Missão (sorri levemente)

Sr.F – Missão? Estranha a maneira como tratas algo que deveria ser prazeroso

Srta.L – Antes que meu corpo desvaneça,
Ou minha mente se esgote e de lembranças eu só tenha meu ultimo suspiro,
Um verso rematado, uma estrofe elegante construirei,
Uma sublime poesia terei

Sr.F - Leia, escreva e então terás sua poesia

Srta.L - Para você é algo simplório, mas por mais incrível que te possa parecer; para mim está
sendo uma tarefa obscura, inglória

Sr.F - Não faça da poesia uma tarefa ou missão, naturalmente a terá.

Srta.L - Você tem facilidade para isso, nasceu poeta.

Sr.F - A poesia não é um dom, a poesia escolhe os corajosos, não os virtuosos à ventura

Srta. L - Eu queria saber o que eu sei agora; quando eu era mais nova;
Srta. L - É que não consigo achar as palavras certas sabe? Isto me desanima, acho que estou
Fazendo tudo errado.

Sr.F - Não procures palavras, são elas que tem que te procurar, a rigor não existem
sinônimos, não desejes rimas nem pretendas versos perfeitos

Sr. F - Não precisas ser um poeta para fazer poesia, o papel se contentará em ter seu
sentimento expresso nele

Srta. L – Sentimentos e emoções não me faltam,
As tantas lágrimas que derramei me fariam escrever epopéias,
No entanto minha mente e sua fadiga torturam-me;

Srta. L - Sinto... Que cada vez mais eu fico sem assunto,
Não sei se é preguiça de falar, de escrever, ou preguiça das pessoas.
Eu queria saber o que eu sei agora; quando eu era mais forte;

Sr.F - Não percebestes mas esteve fazendo poesia em todo este momento

Sr.F - Achar que poesia somente é construída à base de galantes palavras, é subestimar a
Poesia

Srta.L - Humm...Pois acho que você é mais um fruto da minha perspicaz capacidade de
enganar as pessoas, amigo, sinto muito te decepcionar, mas sou uma fraude

Sr.F - Não é a mim que você deve desculpas e sim a si mesma

Sr.F - Não me entristece ver que sua poesia é ruim, me entristece ver que não acreditas que
possa fazer uma

E assim Sr.F se despede de sua amiga e ruma em direção a sua casa. No outro dia fazendo o mesmo percurso , no mesmo banco onde sua amiga estava sentada no dia anterior, Sr.F vê um bilhete, seguro por um girassol, ele o pega para ler então:

“ Razão você teve, prodígio não sou, nem quero ser;
Se algo importante quero fazer, talvez seja para permanecer,
Mas se assim fizer, lembrada serei por quem?

Não preciso de elogios oportunos e muito menos de falsidades,
A estes lhes desejo que nunca vejam estes versos
A quem quero que este poema agrade não contará palavras, ou linhas,
Nem se importará com a perfeição de uma rima ou a forma de uma estrofe,

Eu não me importarei.”






Obrigado,
Consegui!

Sobre o texto

Este texto dedico a minha amiga Leticia e as nossas conversas (virtuais e reais), afinal elas foram a base deste conto.

Assim é Leticia, não uma fraude, uma falsa anti-social, falsa antipática e falsa não-poetisa, que tem mais vocação para escrever do que imagina.

Mas a Srta.L. não foi feita só de Leticia, de certa forma tem algo de mim e de outras pessoas, de fato acho que mais pessoas se identificarão com ela.

O título tirei de um livro que tenho aqui em casa que se chama " Eu e outras poesias" , de Augusto dos Anjos.

Com este conto espero conseguir voltar de vez a "blogosfera" , lugar por onde estive quase ausente este ano. Espero que tenham gostado